Um recomeço após um grande respiro e... minha newsletter está de volta! Agora com outras ideias e intenções — e com novas edições ao final de cada mês. (Considerem que esta é a edição de janeiro, ok?)
Aqui será um espaço para compartilhar meus textos autorais ou reflexões afetuosas e pessoais a respeito de livros e filmes que tenham me impactado de alguma forma. O texto escrito sempre foi minha melhor forma de comunicação e, aqui nesta newsletter, quero explorar isso da melhor forma possível.
Para começar o ano, escolhi retomar e fazer pequenas alterações em uma antiga edição que foi muito comentada pelos assinantes e que, para além disso, representa muito bem a ideia do que desejo escrever nos próximos meses.
Espero que vocês gostem e sigam comigo nas próximas edições.
Edição #8, publicada em 28 de junho de 2023 (editada e atualizada).
Existe certa magia na minha biblioteca e na forma com a qual meus livros preferidos chegam até mim. Alguns foram presentes inesperados, outros chegaram após o dedo deslizar por uma prateleira e, num golpe de acaso ou de magia, acabar escolhendo um título que mudaria tudo. Alguns foram selecionados sem qualquer critério, apenas para vencer o tédio e a solidão durante os intervalos da escola, outros foram comprados durante as buscas incansáveis nos balaios de ofertas da feira do livro.
Sem qualquer pesquisa ou busca detalhada, pude ler os livros que mudaram minha vida, minha forma de perceber o mundo ou a mim mesma, que me fizeram sentir algo diferente ou me fizeram encontrar personagens que sentiam dores e angústias parecidas com as minhas.
Livros são um sopro de vida que a arte nos proporciona para que possamos sobreviver com mais leveza e menos solidão.
Há meses, uma amiga muito querida — a Dia Nobre, autora de No Útero Não Existe Gravidade — me mandou um livro de presente. Eu amei o presente, é claro. Mas… e aí que entra o elemento mágico… ela resolveu me enviar outro livro junto — um livro do qual ela era autora do texto de apresentação.
Então a mágica aconteceu.
Foi exatamente esse segundo livro, não o presente principal, que ganhou minha atenção e meu coração todinho. E aqui estou eu, apaixonada e encantada pelo romance Urso, da escritora Marian Engel.
Marian, romancista canadense, teve mais de cinco obras publicadas, mas foi com Bear que ela conseguiu ter seu nome reconhecido no mundo. A obra foi traduzida em mais de cinco idiomas e a autora recebeu o Governor General’s Literary Award for Fiction, o mais importante prêmio literário do Canadá.
Ela parecia ser uma mulher muito interessante, era pequenina e usava os cabelos curtinhos. Quando questionada a respeito das polêmicas do livro, respondia de forma elegante e misteriosa — nesta reportagem, temos acesso a alguns trechos de entrevistas. Para quem adora fofocas literárias — assim como eu —, existem muitas cartas trocadas entre ela e escritoras e escritores como Alice Munro, Margaret Atwood e Graeme Gibson, alguma reunidas nos volumes de cartas Dear Hugh, Dear Marian: The MacLennan-Engel Correspondence (1995) e Marian Engel: Life in Letters (2004). Ela também tinha um diário, onde registrava ideias e textos que depois utilizava em sua produção literária. E então foi essa figura graciosa e interessante que escreveu o livro que tanto me conquistou.
“Depois de cinco anos enterrada dia após dia em meio aos mapas e manuscritos decadentes de um instituto histórico, Lou recebe uma tarefa de campo bem-vinda: catalogar uma biblioteca do século XIX, provavelmente localizada em uma casa octogonal em uma ilha remota no norte de Ontário. Ansiosa para reconstruir a curiosa história da propriedade, ela não está preparada para a descoberta de que a ilha tem outro habitante: um urso.”
— Sinopse da editora —
Urso é um livro quieto e sorrateiro, nas primeiras páginas senti que estava fazendo uma pequena viagem de férias, mas o destino não foi aquele que eu esperava: a cada página, eu lia Marian enquanto ela me lia de volta. E, assim, Urso — o romance controverso, erótico, profundo e ousado — ganhou lugar na minha lista de livros preferidos da vida.
"Ando com a estranha sensação", ela escreveu ao diretor em um cartão-postal, "de ter renascido."
— Urso, Marian Engel —
E aqui não tenho interesse em escrever uma resenha crítica ou algo do gênero, não quero convencer ninguém de que esse livro é incrível. Ele foi incrível para MIM. E é sobre isso que comecei a pensar desde que ele chegou aqui em casa.
Tive uma longa conversa com minha amiga Verena — autora de Inventário dos Predadores Domésticos — a respeito desse poder que alguns livros têm de penetrarem fundo em nossa alma. Nós, que trabalhamos com livros e com textos, temos uma rotina onde a leitura é constante e estamos sempre lendo alguma obra. Nós lemos, gostamos de muitas coisas e odiamos outras tantas, mas alguns livros… alguns chegam fazendo uma revolução dentro da gente, trazendo até a superfície um tipo de sentimento tão íntimo que, às vezes, nem mesmo notávamos a sua presença.
É justamente esse diálogo interior entre livros e sentimentos que comanda a nossa identificação com certas obras (e aqui podemos considerar livros, filmes, ilustrações, pinturas). Por isso, como escritora e profissional do texto, acredito muito na força de escrever a respeito de qualquer coisa que seja importante para nós, não importa o quanto pareça inusitado ou fora do lugar comum, fora do que o mercado deseja… nossas histórias sempre vão encontrar um coração que precisa delas, vão aquecer, consolar ou até mesmo causar uma revolução na vida de alguém.
"Ela amava o urso. Havia nele uma profundidade que ela não conseguia sondar, que não era capaz de alcançar e destruir com os dedos de sua inteligência."
— Urso, Marian Engel —
Quando escrevi o roteiro de Cordélia, em 2018, ele era importante apenas para mim — foi uma forma de expurgar alguns traumas e medos que me assombravam. Pouco tempo depois do lançamento, ao longo do ano de 2021, muitos leitores encontraram nessa história o consolo para a dor da pandemia e da perda de familiares. A morte ganhou contornos menos brutais após a leitura da minha história. Recebo até hoje mensagens com muito amor e agradecimento, e isso me mostra, todos os dias, que nossas histórias têm uma função muito importante: elas abraçam corações humanos, consolam e acalentam mais pessoas do que podemos imaginar.
Escrever faz bem para quem escreve, faz bem para quem lê e nossas histórias fazem a diferença no mundo. Também podem fazer a diferença para uma única pessoa, mas no momento em que ela lê, ela é o mundo. E para mim, isso é o suficiente.
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Obrigada pela leitura! Espero você na próxima edição. ;)
feliz que você está de volta <3
Bem-vinda de volta, prima! :)